Novo Programa da USAID, Fundação Skoll e Conexsus buscará acelerar a sociobioeconomia na Amazônia

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A iniciativa deve combinar preservação da biodiversidade com melhoria dos meios de vida para comunidades locais, povos tradicionais e originários, em ações que envolvem a participação de agentes dos territórios, das organizações sociais, do setor público e da iniciativa privada.

Painél: facilitação gráfica executada durante o evento em São Paulo (SP), em 29 de maio de 2024.

Com o objetivo de iniciar o desenvolvimento colaborativo para construção do Programa de Aceleração da Sociobioeconomia na Amazônia, Conexsus, USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e Fundação Skoll organizaram, no último dia 29 de maio, em São Paulo (SP),  o primeiro diálogo de co-construção deste Programa inovador que buscará fortalecer capacidades, promover a sociobioeconomia e a ação climática, resultando na preservação da biodiversidade e na melhoria do bem-viver das comunidades na Amazônia Legal Brasileira.

A proposta do Programa, cujo diálogo inicial se deu neste evento, é de uma iniciativa inovadora que traga vários atores dos ecossistemas, com atuação na promoção da sociobiodiversidade na Amazônia, para pensar um novo conjunto de ações, que tragam soluções imediatas e em escala, a partir do que organizações da sociedade civil, setor financeiro e lideranças dos negócios de impacto socioambiental, entendem como possibilidades, diante de todo espectro de necessidades emergentes nos territórios.

“Um Programa de Aceleração da Sociobioeconomia na Amazônia voltado e trabalhado com as comunidades locais é muito importante para o desenvolvimento sustentável, conservação dos territórios, preservação de seus recursos, bem como fortalecimento da produção, geração de trabalho e renda, inclusão social e econômica, dentro dos mercados. É fundamental a gente poder contar com um Programa que possa atender as famílias, com as necessidades que existem, mas também respeitando a cultura,  a diversidade dessa comunidade, dessa população que cuida dos territórios e dos seus ancestrais”, destaca Gracionice Costa da Silva Correa, presidente da Cooperativa Manejaí e Associação ATAAP, de Portel-PA, no Marajó.. 

“Hoje é o primeiro diálogo, a primeira vez que estamos chamando um primeiro grupo de parceiros para pensar as respostas e pensar grande o que podemos fazer de diferente, de novo e de mais efetivo, diante desse novo modelo em que as organizações no país estão liderando o processo de desenvolvimento da sociobioeconomia”, explica a diretora executiva da Conexsus, Barbara Brakarz. 

Diretrizes e ferramentas

O diálogo deu ênfase na elaboração das primeiras diretrizes e ferramentas que vão orientar ações como a identificação das sinergias e principais partes estratégicas interessadas, bem como a concepção conjunta do quadro global do Programa e do seu possível conjunto de projetos.

“Para impulsionar e acelerar o desenvolvimento da bioeconomia aqui no Brasil, o mais importante é a participação multissetorial. É preciso do poder público, da iniciativa privada, da sociedade civil. É necessário que as comunidades indígenas façam parte de uma abordagem cooperativa para que possamos, ao trazer para a mesa todas as ferramentas que temos à nossa disposição em cada um desses diferentes setores, obter rapidamente um movimento e é fundamental que avancemos como um coletivo. Isso precisa acontecer o mais rapidamente possível, precisamos que todos participem e façam a sua parte”,  avalia a CEO da Fundação Skoll, Marla Blow. 

Para Toya Manchineri, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, é preciso incorporar nas discussões sobre bioeconomia, elementos da economia indígena. “A gente tem outro jeito de pensar, de  olhar o mundo, mas penso que temos muito a crescer nesse diálogo entre empresas e programas destinados para a Amazônia. É preciso incorporar neles o olhar dos povos indígenas, dos ribeirinhos, dos extrativistas, para termos uma parceria verdadeira, não apenas sermos repassadores de produtos, mas fazer parte de todo o processo e fortalecer nossas culturas e territórios”, enfatiza a liderança indígena. 

Entre as organizações convidadas para esta construção está também o Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS. O secretário geral,  Dione Torquato, destaca o fortalecimento da sociobiodiversidade como oportunidade não só de garantir a renda para as comunidades, mas essencialmente também como um contraponto ao modelo econômico. “Nós entendemos que é possível um desenvolvimento a partir do fortalecimento das organizações comunitárias. Quando a gente vem discutir um Programa ou uma ação é extremamente importante discutir os desafios que nós temos na inclusão dessas comunidades tradicionais dentro de um processo. Por isso é importante ouvir os atores locais, as organizações de base, para discutirmos todos os elos da cadeia, inclusive a gestão, a infraestrutura, a participação das comunidades e as políticas públicas necessárias para unirmos iniciativa privada e organizações sociais que dão assistência a esses negócios comunitários”, afirma Torquato. 

Este primeiro Diálogo reuniu mais de 50 representantes de organizações parceiras em São Paulo (SP) e promoveu a colaboração entre agentes dos territórios, organizações sociais, setor público e privado. Fotos: Conexsus/@andcezar

Reconhecer saberes

Na compreensão do coordenador executivo da  Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ, Biko Rodrigues, a bioeconomia nada mais é do que um termo moderno para para falar sobre aquilo que povos e comunidades quilombolas e tradicionais já fazem nos territórios. “Para nós é muito importante reconhecer os saberes e procurar comercializar de forma justa o que já produzimos. Na verdade não há nada que se construa dentro do bioma amazônico se não houver diálogo com quem já trabalha para proteger toda essa biodiversidade. 30% das comunidades quilombolas estão no bioma amazônico e precisamos dar evidência para essa população que tem um papel muito importante na preservação, mas se torna invisível. O Brasil e o mundo inteiro olham para a Amazônia mas não conseguem enxergar a população negra, quilombola que vive nesse território”, afirma a liderança quilombola.

“A USAID acredita que as soluções devem ser locais. Neste contexto, temos de ouvir as vozes locais, compreender as oportunidades, as ideias que vêm das comunidades e depois combiná-las com os princípios do mercado. O desenvolvimento não pode vir de fora para dentro, tem de vir de dentro para fora e depois associar-se ao setor privado”, destaca o diretor da USAID Brasil, Mark Carrato.

Segundo Fernando Moretti, Líder de Crédito Socioambiental da Conexsus e ponto focal dos Diálogos, este foi o primeiro de uma série de eventos de co-construção deste Programa, coordenado pela Conexsus nesta parceria com USAID e Fundação Skoll, e deverá contar com futuras etapas, envolvendo mais organizações representativas de povos e comunidades tradicionais, negócios comunitários de impacto socioambiental da Amazônia, terceiro setor, cooperação internacional, governo e instituições financeiras de fomento. “O próximo Diálogo deverá ocorrer em Brasília (DF), com uma participação ainda maior de organizações do setor e governo, pois temos a certeza que para ganho de escala e principalmente geração de impacto efetivo, é necessário que os atores das economias da sociobiodiversidade sejam os protagonistas neste processo de co-construção”, afirma Moretti.