Oficina Mercados Responsáveis reúne representantes de negócios comunitários e empresas para cocriação de processos comerciais éticos e sustentáveis

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O momento marcou o início da cocriação de um guia que pretende indicar caminhos sustentáveis e justos para relações comerciais entre empresas e negócios de impacto da sociobioeconomia. 

A oficina reuniu negócios comunitários e empresas em São Paulo de 7 a 8 de maio de 2024. Fotos: Arquivo Conexsus.

“O projeto Mercados Responsáveis é um dos componentes da estratégia de acesso a mercados da Conexsus. Essa é uma etapa fundamental para atingir os objetivos que temos a partir da sociobioeconomia. A geração de renda e inclusão de povos e comunidades tradicionais, agentes da agricultura familiar, extrativistas e outros produtores dos negócios comunitários, no mercado. A renda dessas famílias acontece quando um produto é vendido com um valor justo e com práticas responsáveis”, explica Arnoldo de Campos, líder do Núcleo Inteligência de Mercados da Conexsus.

O Núcleo tem trabalhado para construir um referencial de relacionamento entre empresas e negócios comunitários. A oficina “Mercados Responsáveis: cocriação para processos comerciais éticos e sustentáveis” é o passo inicial desse processo que tem o compromisso de fortalecer o debate e propor caminhos de como empresas, negócios comunitários e organizações podem avançar em suas atribuições com a agenda ambiental, climática, social e de governança, por meio de relações comerciais que respeitem a conservação das florestas e da biodiversidade, fortaleçam a inclusão produtiva e gerem impactos positivos em todos as partes da cadeia de valor.

“O projeto Mercados Responsáveis busca apoiar a construção de alianças entre empresas e negócios comunitários,  a partir de critérios de responsabilidade, transparência, equilíbrio, em uma relação que as partes se sintam confortáveis e, principalmente, em que os resultados sejam compartilhados. Essa é a relação comercial que desejamos. Com isso poderemos aumentar os mercados para a sociobioeconomia, para as populações que vivem e manejam as nossas florestas, e ampliar a renda dessas famílias”, completa Campos.

Ecossistemas e povos

Reconhecendo a importância vital das florestas brasileiras e a necessidade de mantê-las em pé, garantindo a conservação do ecossistema e também protegendo a diversidade cultural e de saberes tradicionais de seus povos, diversas empresas já estão implementando ações comerciais que contribuem para a transformação dos modelos de negócio e para uma abordagem cada vez mais comprometida com a conservação da biodiversidade e das populações que protegem a floresta e os ecossistemas. “Trabalhamos em parceria com várias instituições no Programa Floresta Faz Bem, que é a nossa gôndola de produtos da sociobiodiversidade provenientes de fornecedores de povos indígenas e comunidades tradicionais. E o papel de organizações como a Conexsus é muito importante nessa ponte entre nós e eles, para que possamos conhecer e mapear esses fornecedores”, destaca Lucille Drugeault, que integra a equipe de sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil. 

De acordo com Lucille, o Grupo Carrefour Brasil tem três objetivos com o Programa Floresta Faz Bem, já com gôndolas em lojas de São Paulo e Brasília: primeiro conectar os fornecedores com o mercado e fazer com que eles consigam permanecer nas lojas; segundo,  conscientizar os consumidores para que entendam que no ato da compra de produtos da sociobiodiversidade eles também tem o poder de proteção da floresta; e o terceiro é transformar processos internos do Grupo para fortalecer a relação com negócios comunitários e de impacto socioambiental. “Nosso objetivo é conseguir expandir essa gôndola para 50 lojas até 2026. Hoje temos 25 produtos e 11 fornecedores, mas a ideia é expandir para que tenhamos mais fornecedores e mais produtos e assim produzirmos um impacto ainda mais positivo”, explica. 

Propostas colaborativas

A oficina foi marcada por reflexões e propostas colaborativas, tanto da parte dos representantes de empresas e indústrias, quanto da parte dos negócios comunitários. Os principais temas discutidos também são diretrizes para o guia em construção: desenvolvimento da relação comercial, desenvolvimento da cadeia produtiva, conformidade legal, remuneração justa, geração de valor, conservação e uso sustentável da biodiversidade e diversidade sociocultural. “A partir da reunião e sistematização das reflexões dessas diretrizes, conseguiremos dar andamento para montar o fluxo que vai gerar um guia de práticas e, consequentemente, vamos seguir também com um piloto de implementação”, explica Lara Ciari, coordenadora de circuitos longos, no Núcleo Inteligência de Mercados da Conexsus. 

A ideia de reunir representantes de negócios comunitários e de empresas nasceu a partir da percepção de que essa ponte é um grande desafio a ser enfrentado para garantir o fortalecimento das cadeias produtivas da sociobiodiversidade. “Reunimos negócios comunitários e empresas que já tem práticas focadas em mercados responsáveis. A ideia é fazer sempre mais essa ponte para que eles se conectem e que toda negociação seja boa para todos os lados, assim como para manter a floresta em pé. Por isso, o guia vai pautar questões como sustentabilidade, negociação, precificação e boas práticas de manejo, tudo isso para que os arranjos comerciais comunguem dos mesmos valores, olhando muito para a bioeconomia”, afirma Irilene Vale, que também integra o Núcleo Inteligência de Mercados da Conexsus. 

“Essa cocriação de mercados, a partir da cadeia de valor dos produtos da sociobiodiversidade, com foco na sustentabilidade, no preço justo, na transparência, agregando valor aos produtos, vai fortalecer não só a nossa cooperativa, mas todos os empreendimentos que estão nessa construção e para que mais pessoas valorizem e consumam os produtos da Amazônia”,  constata a paraense Helia Felix, cooperada da Coopatrans.

Leandro Araújo, presidente da Associação dos Produtores Agroextrativistas de Canutama (ASPAC), celebra a retomada da extração do látex que envolve o manejo de seringueiras nativas na Amazônia, sem degradação da floresta e garantindo renda para famílias que tradicionalmente atuam na cadeia produtiva da borracha. “A gente precisa avançar juntos e isso tem fortalecido o sucesso dessa grande rede que vem se formando entre cooperativas, associações e empresas. Graças aos nossos parceiros institucionais nos aproximamos dos parceiros comerciais e isso tem gerado uma grande transformação na vida dos seringueiros que já celebram os resultados que nos garantem levar renda e qualidade de vida aos nossos extrativistas”. 

A oficina contou ainda com a participação de parceiros institucionais como Imaflora, Idesam, Directto e Bean to Bar. “Nós estamos neste momento em um processo de revisão dos nossos critérios de comércio ético, que regem as relações entre empresas e organizações comunitárias no dia a dia da rede, então está sendo ótimo contribuir com a construção de bases e princípios para entendermos como vamos aplicar na prática os critérios de comércio justo, para fortalecer os negócios comunitários e qualificar as relações comerciais”, destaca Lucas Nieto, coordenador de mercado na Rede Origens Brasil, da Imaflora. 

A oficina faz parte de uma das etapas do projeto Mercados Responsáveis e reuniu entre os dias 7 e 8 de maio, em São Paulo (SP), sete representantes de negócios comunitários do Pará (Cart, Coopatrans, Camppax, Amoreri, Aspac, Asproc, Cofruta) três do Amapá (Ataic, Comaru, Amazonbai), dois de Minas Gerais (Grande Sertão, Coopemapi) e um do Espírito Santo  (Cafesul). 

No campo de empresas e indústria, a oficina contou com a participação de 11 representantes de São Paulo (Mahta, Grupo Carrefou Brasil, Casa Lasevicius, Ara cacao, Concepta, Greentech, OFI, Brazbio, Chokolah, Luisa Abram, Symrise) e um da Bahia (Dengo).